Esta Técnica foi desenvolvida a partir de 1983, quando o mestre João Roberto de Souza estabeleceu parcerias com vários profissionais da dança e teatro e passou a catalogar os movimentos e todo o processo que se desencadeou até os dias de hoje.
A necessidade da expressão por meio da arte encontrou alguns caminhos os quais permearam as artes plásticas, a música, o teatro, a dança, a arquitetura, o cinema, a filosofia, o zen budismo, o expressionismo alemão, bem como a cultura caipira do interior de São Paulo que se traduz pelos causos, crendices, lendas, celebrações, rituais religiosos, danças étnicas e a cultura indígena brasileira.
Uma visão bastante eclética, vindoura dos vários momentos de encontros colaborativos.
Cremos que este estado de pós-modernidade continua a nos influenciar a cada trabalho que nos propomos a desenvolver.
Sempre recebemos companheiros de outras partes de mundo, que de certa forma colaboram para o conteúdo deste vasto caldeirão cultural.
Difícil caminhar sem informações descritas sobre um determinado assunto, mas foi entendendo a vida do nosso maior mestre Kazuo Ohno, que resolvemos traçar um paralelo de pesquisa corporal, aonde iria nos levar, até aquele momento não sabíamos, mas o desejo de prosseguir fazendo algo novo para nós era o mote de nossa pesquisa.
Um corpo como base de estudo, uma cultura como referência de vida. Brasil - Japão. Dois países diferentes, duas culturas diferentes. O que nos aproximava do mesmo caminho era a arte.
Espetáculos surgiram. O grande mestre Kazuo Ohno visita o Brasil. E a certeza do trajeto percorrido vem nas palavras do próprio Kazuo Ohno.
" _É uma pergunta difícil de responder. Cada dançarino tem seu próprio butoh. Não existe um método, porque a dança é a expressão do interior de cada um. Por isso é singular em cada pessoa. Para mim, o butoh é, com palavras simples, apreciar a vida, minha e dos outros."
Então como entender um corpo que sobe ao palco e improvisa com a qualidade de uma vida toda? Muitas questões levantadas e para cada uma tentamos encontrar respostas. Muitos espinhos encontrados, pedras ponteagudas que nos sangraram os pés e até outras atiradas que nos lançaram do escuro e do meio da multidão. Incompreensões, falsas acusações, típico das pessoas que não nos conhecem e tem para si de que o melhor do homem está nas grandes cidades e menosprezam o que vêm de pequenas cidades, pequenos movimentos e pequenos sinais.
Para um grande incêndio é necessária apenas uma pequena fagulha para este fogo iniciar.
E assim seguimos nós, em meio a ventos e trovoadas, muitas vezes sentindo o amargor das palavras alheias, muitas vezes vendo amigos desistirem da jornada e quando nos damos conta estamos caminhando solitariamente com todas as bagagens nas mãos, nas costas e puxando pelo caminho pesados fardos.
Mais uma vez nos alenta as palavras de Kazuo Ohno.
" _Eu penso que há algo em comum entre a energia de nascimento de uma vida e a do nascimento do Universo. Existe uma força centrípeta entre mãe e filho, como entre o Sol e os planetas do sistema Solar. Tudo o que existe nesse mundo é ligado profundamente com o Universo. Mas a dança moderna não incluía esses fenômenos básicos da natureza, as relações entre ser humano, morte, vida, amor, universo, natureza e outros temas essenciais, nem o expressionismo alemão. O envolvimento com estas questões foram nossos mestres e crescemos com elas. É isto que expresso no meu butoh."
Nós vivemos em uma época, onde o poder é eixo central da mídia. Uma só palavra tende a se tornar à verdade de toda a comunidade que pratica a dança e a arte em geral. Mesmo se essa verdade torna-se a moldar as situações convenientes de seu locutor.
Então tornamo-nos marginais, lutando contra verdades compradas, contra locuções tendenciosas e não nos deixando contaminar. Acreditando em cada gesto que brota de nosso corpo, cada olhar proferido do público, cada abraço carinhoso ao fim da função, cada lágrima escorrida dos olhos de uma criança diante a constatação da magia da arte.
Sem a preocupação com o corpo preparado para a virtuose ou a acrobacia, nos direcionamos para o local menos visitado pelos pesquisadores nos dias de hoje, o interior do homem. Essa viagem sem fim, abriu e está abrindo questões que até então são colocadas como clichê e menosprezadas pelos locutores da mídia.
O maior, o melhor, estes pontos não estão ao lado do sensível, do profundo ou do conteúdo. Essa megalomania continuará pela estrada sozinha amparada somente pelas vozes que de maneira geral se beneficiam do caos e da inércia. Enquanto isso trabalhamos, enquanto isso compreendemos o nosso corpo, a nossa mente, a nossa jornada. E não vamos parar...
Nem mesmo Kazuo Ohno parou depois de suas primeiras críticas negativas.
" _ Há muita gente que procura chamar a atenção só por ser esquisito, excêntrico. Mas não conheço ninguém no Japão que trate das questões filosóficas essenciais como as que eu trato. Talvez eu seja o único que as tento expressar. Não adianta pensar com a mente como é que se deve viver. A vida tem que ser descoberta no dia-dia O que apresento no meu butoh é tudo que eu vivo na minha vida. Premeditar as coisas nem sempre dá certo. Por exemplo, guerras, devastação do meio ambiente são feitas pelas pessoas que planejam demais. Acho que nós devemos dar mais importância aos sentimentos e respeitá-los."
Voltamos novamente a discussão de que somos brasileiros, conhecemos a Dança Butoh de Kazuo Ohno, e à partir dela, seguindo suas palavras, estamos em busca de nossa dança. Não somos japoneses, e nunca pretendemos imitar o próprio Ohno. Vamos a busca da nossa linguagem, da nossa verdade. Respeitando muito todos os ensinamentos do grande mestre, mas também a nossa condição de brasileiros. Com a nossa riquíssima diversidade cultural, o que nos faz únicos e originais.
Em respeito ao grande mestre e a sua dança, nos submetemos a um ritual de preparação.
Raspamos o corpo, removemos os pêlos, preparamos a pele para a maquiagem branca.
Agora então, somos a própria imagem dos sobreviventes da bomba de Hiroshima e Nagasaki, apenas fantasmas, apenas corpos decrépitos envoltos a um passado herdado pelo cosmos.
Cada intérprete colabora com sua dor interna aos sofrimentos de uma raça. Uma história individual somada ao todo e ao nada.
Várias são as característica do Aiar Butoh e que tornamos marca registrada da Cia Ogawa Butoh Center: as vestimentas desenvolvidas, saias com um corte especial que deixa a parte de trás maior - arrastando, como que se deixássemos um pouco de nós por onde passamos; as marcas vermelhas na maquiagem, os galhos nos arranjos dos cabelos; a exploração coreográfica espacial dos braços; a utilização de materiais naturais em nossas obras como folhas, flores e frutos - um tributo à mãe natureza generosa e fecunda do nosso país.
O vazio que não é negação, mas uma fôrma capaz de receber estímulos, ações, sensações e movimentos externos.
Não somos seres humanos, somos seres. Seres capazes de migrar sentimentos, emoções, personagens.
Cada um tem uma história a contar, e então contamos a nossa, ou a outra, mas da nossa maneira. Sacamos dos cacos recolhidos no percurso da jornada e nos vestimos de remendos.
E assim nos fazemos prontos, nos acabamos a cada dia a cada performance para recomeçar amanhã.
Da nossa cultura somamos ao butoh a palavra aiar, do Tupi Guarani - Colher sementes para plantar depois.
Aiar Butoh é a nossa língua, nosso corpo e as nossas lágrimas.

This Technique was developed from 1983, when the master João Roberto de Souza established partnerships with some professionals of the dance and theater and started to catalogue the movements all and the process that if unchained until the present.
The necessity of the expression by means of the art found some ways which crosses the plastic arts, music, the theater, the dance, the architecture, the cinema, the philosophy, zen buddhism, the German expressionism, as well as the culture countryman of the countryside of São Paulo that if translates for the history from simple people, religious crendices, legends, celebrations, rituals, ethnic dances and the Brazilian aboriginal culture.
A sufficiently eclectic, coming vision of the some moments of contribute meeting. We believe that this state of after-modernity continues in influencing them to each work that in we consider them to develop.
We always receive friends from other parts of world, that of certain form collaborate for the content of this vast cultural cauldron. Difficult to walk without described information on one determined subject, but it was understanding the life of our bigger master Kazuo Ohno, that we decide to trace a parallel of corporal research, where would go in taking them, until that moment we did not know, but the desire to continue making something new for us was mote of our research.
A body as study base, a culture as life reference. Brazil - Japan. Two different countries, two different cultures. What in it approached them to the same way was the art.
Spectacles had appeared. The great master Kazuo Ohno visits Brazil. E the certainty of the covered passage comes in the words of the proper Kazuo Ohno.
"_ Is a difficult question to answer. Each dancer has its proper butoh. A method does not exist, because the dance is the expression of the inside of each one. Therefore it is singular in each person. For me, butoh is, with simple words, to appreciate the life, mine and of the others."
Then as to understand a body that goes up to stage and improvises with the quality of a life all? Many questions raised and for each one we try to find answers. Many thorns found, ponteagudas rocks that in them had bleed the feet and until shot others that in they had launched them of the dark one and of the way of the multitude. No comprehension, false accusations, typical of the people who in do not know them and have for itself of that the best one of the man is in the great cities and dismiss what they come of small cities, small movements and small signals.
For a great fire only one is necessary small spark this fire to initiate.
And thus we follow, in way the winds and thunderstorms, many times feeling the bitter taste them other people's words, many times seeing friends to give up the day and when in we give account to them we are walking loneliness with all the luggage in the hands, in the coasts and pulling for the way heavy packs.
One more time in the encourage the words of Kazuo Ohno.
"_ I think that he has something in common I enter the energy of birth of a life and of the birth of the Universe. A centripetal force between mother and son exists, as between the Sun and the planets of the Solar system. Everything what exists in this world is on deeply with the Universe. But not include the modern dance these basic phenomena of the nature, the essential relations between human being, death, life, love, universe, nature and other subjects, nor the German expressionism. The envolvement with these questions had been our masters and grows with them. It is this that express in mine butoh."
We live at a time, where the power is central axle of the media. One word only tends if to become the truth of all the community that practises the dance and the art in general. Exactly if this truth becomes to mold it the convenient situations of its speaker.
Then we become delinquents, fighting against bought truths, tendencyous locutions and in not leaving to contaminate. Believing each gesture that sprouts of our body, each pronounced look of the public, each I hug affectionate to the end of the function, each drained tear of the eyes of a child ahead the establish of the magic of the art.
Without the concern with the body prepared for virtuose or the acrobatics, in we less direct them for the place visited by the researchers nowadays, the inside of the man. This trip without end, opened and is opening questions that until then are placed as cliche and dismiss by the speakers of the media.
The greater, best, these points are not to the side of the sensible one, the deep one or the content. This megalomany will continue for the alone road only supported for the voices that in general way if benefit of the chaos and inertia. While this we work, while this we understand our body, our mind, our day. E we do not go to stop...
Not even Kazuo Ohno stopped after its first critical refusals.
"_ Has much people that it looks to call the attention alone for being quaint, eccentric. But I do not know nobody in the Japan that deals with essential the philosophical questions as the ones that I treatment. Perhaps I am the only one that I try them to express. He does not advance to think with the mind as he is that if he must live. The life has that to be discovered in the day-day What I present in mine butoh is everything that I live in my life. To plain the things nor always gives certain. For example, wars, destruction of the environment are made by the people who plan excessively. I find that we must give more importance to the feelings and respect them."
We again come back the quarrel of that we are Brazilian, we know Butoh Dance from Kazuo Ohno, and to leaving of it, following its words, are in search of our dance. We are not Japanese, and we never intend to imitate the proper Ohno. We go the search of our language, our truth. Respecting very all the teachings of the great master, but also our condition of Brazilians. With ours very rich cultural diversity, what in them it makes only e original.
In respect to the great master and its dance, in we submit them to a preparation ritual. We scrape the body, we remove the coats, we prepare the skin for the white makeup.
Now then, we are the proper image of the survivors of the bomb of Hiroshima and Nakasaki, only ghosts, only envoltos decrepit bodies to a past inherited for the cosmos.
Each interpreter collaborates with its internal pain to the sufferings of a race. An added individual history to all and the nothing.
Several are the characteristic of the Aiar Butoh and that we become registered mark of the Cia Ogawa Butoh Center: the developed clothes, skirts with one special cut that leaves the bigger behind part - dragging, as that if we left a little of us for where we pass; the red marks in the maquiagem, the twigs in the arrangements of the hair; the space choreographic exploration of the arms; the use of natural materials in our workmanships as leves, flowers and fruits - a tribute to the mother generous and fruitful nature of our country.
The emptiness that are not negation, but one mold capable to receive stimulatons, external actions, sensations and movements.
We are not human beings, we are beings. Beings capable to migrar feelings, emotions, personages.
Each one has a history to count, and then we count ours, or to another one, but in our way. We draw of the bits collected in the passage of the day and in we dress them of patches.
And thus in we make them ready, in we finish them to each day to each performance to recommence tomorrow.
Of our culture we add to butoh the word to aiar, of the indigenous culture Tupi Guarani - Spoon seeds to plant later.
Aiar Butoh is our language, our body and our tears.

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