Balanço final do 14.º FTC
"O balanço dos espetáculos apresentados para crianças e adolescentes durante o 14.º Festival de Teatro de Curitiba (FTC) é positivo. De uma maneira geral, o público teve uma boa variedade de temas e de propostas.
Percebe-se que a grande maioria dos profissionais está preocupada em reciclar a linguagem utilizada nas encenações – respeitando a inteligência da platéia jovem. Estereótipos, atuações exageradas e espalhafatosas estão realmente com os dias contados.
Apesar de algumas ingratas surpresas, boa parte das companhias que estiveram no FTC provaram que com cuidado e criatividade é possível entreter e ainda ensinar muito à garotada (e sem aquela idéia de ser didático ao extremo ou exageradamente fantasioso).
Apontar as melhores atrações não é fácil. Por questões lógicas (número exagerado de peças), foi impossível assistir a tudo. Mas vamos tentar fazer uma reflexão a partir do que vimos.
No topo da lista, destaco três trabalhos: A Princesa Engasgada, do Grupo Farsa, de Porto Alegre; O Caixeiro Viajante ou o Vendedor de Ilusões, da Ogawa Butoh Center, de São Simão, São Paulo; e Um Mundo Debaixo do Meu Chapéu – Projeto Chaplin para Crianças, da Cia. do Abração, de Curitiba.
São três projetos completamente diferentes e que têm em comum a responsabilidade e o respeito com o público. No caso, as crianças.
A peça gaúcha surpreende em vários aspectos. No palco, por exemplo, apenas duas “araras de roupa” e alguns objetos que vão colaborar com a história. Dois atores, excelentes em suas atuações, contam as desventuras de uma princesa que está engasgada com um espinho de peixe (com direito a troca de figurinos diante dos olhares atentos dos espectadores).
Na verdade, o espetáculo brinca com os contos de fada. O camponês, que amarra o pé da esposa na mesa para ter certeza da fidelidade da mesma, sempre ouve da companheira: "Quando nos conhecemos era tão diferente. Eu era bela”, e assim por diante.
Irritada com o marido, ela decide aprontar. Inventa que o simples homem é um médico. E o mesmo tem que ajudar a princesa – que é gorda e meio boba (totalmente diferente dos contos de fada). Afinal, como desobedecer o rei?
Apesar do enredo até certo ponto simples, a maneira com que os artistas amarram a trama é rica e envolve todo o público. O resultado é 10.
O mesmo pode-se dizer da montagem paulista. João Roberto de Souza apresentou, nas Ruínas de São Francisco, um espetáculo no qual contava apenas com sua apurada expressão corporal – infuenciada pelo butoh, uma dança que surgiu no Japão.
Ele encarna um contador de histórias, que sem dizer uma palavra, apresenta a história de uma princesa que foi transformada em sereia. As músicas e os diversos sons utilizados – além de bonecos e pinturas – criam o ambiente ideal para adultos e crianças deixarem a imaginação falar mais alto. Outro desempenho 10...
Ranking do 14.º FTC – Cristiano Luiz Freitas (Editor da Gazetinha)
1.O Caixeiro Viajante ou o Vendedor de Ilusões
Cotação: 10" ...
Cristiano Luiz Freitas - Editor da Gazetinha - Gazeta do Paraná - Curitiba - PR - 29 de março de 2005.
Quando a rua se transforma em um grande palco
14.º FTC - Um contador de histórias invade as Ruínas de São Francisco
" Não é preciso o palco de um teatro tradicional para apresentar um espetáculo. Com uma boa história e bastante criatividade, vários artistas estão espalhados por praças e espaços históricos da cidade durante o 14.º Festival de Teatro de Curitiba (FTC), que termina amanhã.
É isso mesmo. Peças em lugares abertos e com espectadores das mais diferentes realidades (do garoto que saiu da escola ao mendigo que vaga pelas ruas da capital). Nas Ruínas de São Francisco, no Largo da Ordem, tornou-se comum observar uma figura misteriosa, que não diz uma palavra e carrega malas recheadas de surpresas.
No espetáculo O Caixeiro Viajante ou o Vendedor de Ilusões, atração do Fringe no FTC, uma espécie de contador de histórias presta uma homenagem ao escritor infantil Hans Christian Andersen (autor de clássicos como A Pequena Sereia e O Patinho Feio – e que completaria 200 anos no dia 2 de abril). “Não fiz nenhuma pesquisa sobre a obra dele. Nossa inspiração foi na sua arte de falar às crianças”, revela João Roberto de Souza, criador, produtor, diretor e intérprete do espetáculo.
Na peça, João é um caixeiro viajante que chega disposto a apresentar um conto de fadas. Tudo isso apenas com a expressão corporal, bonecos, pinturas e vários recursos – como bolhas de sabão. “Queremos criar a mágica perfeita para a criança navegar na história”, observa.
Com muita habilidade, João mostra à garotada o drama de uma princesa que adora cantar. Sua alegria irrita uma bruxa. A malvada decide transformá-la em um peixe. Mas a moça tinha um coração bom e acabou virando sereia.
A vilã fica irritada e decide colocá-la em um globo de vidro. Mas um príncipe chega para salvá-la e acaba com a bruxa. No final do espetáculo, João guarda todos os seus objetos e vai embora – em busca de mais uma platéia disposta a viajar por um mundo de magia.
Se ligue:
• O Caixeiro Viajante ou o Vendedor de Ilusões – Hoje, às 16 horas; e amanhã, às 17h30, nas Ruínas de São Francisco.
• Acesse www.festivaldeteatro.com.br e confira também o Blog da Gazetinha www.gazetadopovo.com.br/gazetinha/blog."
Cristiano Luiz Freitas - GAZETA DO POVO - Geral - Curitiba - PR - 26 de março de 2005.
O Caixeiro Viajante ou o Vendedor de Ilusões traz a arte do butoh para o universo infantil
FTC 2005 - " No final da Segunda Guerra Mundial o Japão estava arrasado. As bombas de Hiroshima e Nagasaki não só levaram milhares de almas, como também abriram feridas no orgulho japonês. Humilhado o país teve que aceitar ajuda financeira dos Estados Unidos, mas junto com o dinheiro ianque, a marca ocidental da Coca-Cola ao McDonalds invadiu o Japão.
Um movimento para barrar a ocidentalização do país foi iniciado. Por meio disso, surgiu a dança "Ankoku Butoh", hoje só butoh, criada por Tatsumi Hijikata e Kazuo Ohno.
Apesar da intenção de preservar a cultura local, no Japão o butoh é uma dança marginalizada. "É considerada uma deteriorização da arte japonesa. Como no Brasil o pagode é visto como uma deteriorização do samba", compara João Roberto de Souza, professor de butoh e responsável pelo espetáculo "O Caixeiro Viajante ou o Vendedor de Ilusões", apresentado no Festival de Teatro deste ano.
Em "O Caixeiro...", a idéia é trazer a arte para o mundo das crianças, após constatar o interesse delas pela dança. "Nós queríamos saber o por que do interesse das crianças pelo butoh. Descobrimos que era a nossa linguagem a responsável", explica João.
De fato, o movimento corporal no butoh é o grande atrativo da dança. "O butoh trabalha com a dualidade do ser humano representado pelo símbolo Ying-yang", diz. Os elementos desta dualidade, explica João, estão representados a todo momento, desde a linguagem da dança ao figurino do dançarino. Em sua apresentação o ator veste uma saia e aparece com o dorso desnudo, mostrando o feminino e o masculino. Na história o nascimento do filho do príncipe e da princesa e o fim trágico da bruxa mostram a vida e a morte. Nos movimentos a beleza e a decrepitude são bem evidentes. "Esta dualidade tem que estar sempre mostrada".
Para as crianças, a idéia foi contar uma fábula. A maior dificuldade seria prender a atenção deste público especial num espetáculo sem falas. A saída foi o teatro com bonecos. Totalmente sem pêlos e pintado de branco, o ator vira um boneco e movimenta os outros. Assim, ele passa a vida para os bonecos que manipula. "O personagem não é mais um ser humano, é um ser. As crianças percebem isso e acreditam que o personagem seja um ser especial", conta João.
Através da performance do ator a fábula é narrada. Efeitos especiais ajudam a iluminar ainda mais o universo infantil. O espetáculo é também uma homenagem ao escritor de histórias infantis Hans Christian Andersen, no seu bicentenário de nascimento comemorado em 2005.
A peça também é uma oportunidade das crianças viajarem pelo mundo de fadas e descobrirem uma outra realidade. "A idéia é que elas se posicionem com outros olhos diante da vida, que entrem no mundo da fantasia dos contos de fadas", diz João.
Além de se apresentar na Mostra Paralela do Festival de Teatro, "O Caixeiro e o Viajante..." também faz parte da programação da Mostra Metropolitana. No Fringe, a peça é apresentada gratuitamente nas Ruínas do São Francisco. Os horários são: quarta (23) às 17h30, quinta (24) às 16h, sexta-feira (25) às 17h30, sábado (26) às 16h e domingo (27) às 17h30."
Murilo Alves Pereira - TUDO PARANÁ - Curitiba - PR - 23 de março de 2005.
Espetáculo presta homenagem a Andersen
" Curitiba - Depois de várias temporadas de sucesso com "O Caixeiro Viajante ou o Vendedor de Ilusões", segue em apresentação no 14º Festival de Teatro de Curitiba, que acontece até dia 27 de março em diversos locais da cidade, o espetáculo que vem emocionando platéias.
Fringe, do Festival de Curitiba, atrai grupos em busca de visibilidade
A motivação do grupo Mosaico, de Cuiabá (MT), que levará um Shakespeare na bagagem e rodará por 30 horas na estrada, não está longe daquela da Companhia Delirivm Teatro de Dança, de São Simão (SP), que viajará 11 horas com suas 12 atrizes, todas acima de 55 anos e com fôlego invejável para subir ao palco: ambos almejam visibilidade no Fringe, o universo paralelo do Festival de Teatro de Curitiba."...
" Felizes os que assistirem hoje o Grupo Ogawa Butoh Center, em espetáculo premiado inspirado em Mário Quintana, Pina Bausch e a Pós-Modernidade, na Cadeia Velha, às oito da noite..." " A arte marca mesmo presença em todo lugar, conseguindo encantar o público. No Hotel Portal D’Oeste, a magia do teatro aterrissou na noite de Terça-feira, deixando para todos, um gostimho de quero mais. Foi um verdadeiro banho de emoção e cultura, com a peça Ad Aeternum, da Companhia Ogawa Butoh Center, de São Simão, São Paulo..." " Emoção, ansiedade e para alguns, algo novo, em relação a peça que mostra dois personagens, que se encontram num processo evolutivo, onde todos os seres são diferentes... "...Ontem, a primeira apresentação ao ar livre do festival chamou a atenção das pessoas. Os dois atores da Companhia Ogawa Butoh Center de São Simão(SP) emocionaram as pessoas com a peça "Ad Aeternum". " Delirivm Teatro de Dança resulta numa surpresarevitalizadora. Um grupo de dez mulheres sem experiência teatral, na desprestigiada terceira idade, conseguiram graças à imaginação e criatividade de um jovem diretor, João Roberto de Souza, emocionar e expressar com as mais simples e justos recursos, episódios que tiveram a mulher como protagonista chaves deste mundo convulsionado que todos os bem intensionados tratam de melhorar. Uma rica experiência". " Um dos destaques da programação paralela do 15º Festival de Dança de Joinville e que, infelizmente, passou despercebido para muitos foi o Grupo de Dança com senhoras da terceira idade, Delirivm de São Simão/SP, que se apresentou em palcos ao ar livre. Coordenadas, dirigidas e coreografadas por João Roberto de Souza (Delirivm Teatro de Dança), primeiro lugar em Solo Livre Masculino Profissional, o grupo desfilou por Joinville com uma energia e jovialidade, de dar inveja, e mostrou, como já havia mostrado Alicia Alonso, que a dança não tem idade, é uma questão de vontade." " ...O Bailarino cria os figurinos, adereços e cenários, incluindo a preparação de recursos cênicos que criam efeitos visuais incríveis, como a chuva de pó branco em Venezhvela" e o tubo de fumaça vermelha em "A Rosa de Hiroshima". RITMO DO VENTO " Atenção, pessoal, para este nome: João Roberto de Souza. Ele escreve e comunica-se através do movimento. Numa palavra: faz balé. E que balé! Ele apresentou-se aos alunos do Colégio Singular graças à Marisa e à Mônica Cardella, do Balé Oficina. Normalmente irriquietos e irreverentes, os alunos sentiram o impacto da sua arte. Emudeceram-se e deixaram-se maravilhar. A coreografia apresentada, Mishima, registrou-se indelevelmente em suas almas. "...A expressão de horror na face e os movimentos desesperançados do bailarino paulista João Roberto de Souza dão a exata idéia de como se sentitia o homem ao se deparar com a força visual de um planeta agonizante. "...No meio de tantas figuras exóticas, algumas conseguiam chamar ainda mais a atenção. João Roberto de Souza – com um chapéu de veludo com pérolas, sombrinha, um globo terrestre sangrando na mão, uma saia amarrada e maquiagem branca por todo o corpo – fazia uma performance em defesa da natureza e não houve quem não parasse para olhar..." "...Sem dúvida, ele conseguiu levar a platéia ao delírio com sua apresentação, e pode ser definido como um bailarino completo. Tem técnica, talento, expressão facial e corporal e um perfeito domínio de movimentos"... "...João Roberto já deveria estar num grande centro, é o senhor bailarino. Nas diversas cenas do "Eu e o Nada", ele foi moleque, velho, bailarina (aqui é feminino), jovem, adolescente, o "mascarado", no final a paz, com extraordinária interpretação pelo seu jogo de fisionomia"... "...Esse rapaz é a criatividade em estado bruto. Ele não tem nada de técnico, está começando a conhecer técnica agora. Mas é alguém que consegue usar os elementos que conhece de uma maneira surpreendemente criativa"...
E isso não é exagero não. Sem dizer nenhuma palavra, utilizando uma forma arrojada e uma linguagem corporal apuradíssima, capaz de se fazer entender por qualquer idade e nacionalidade, João Roberto utiliza vários bonecos, de diversos tamanhos e técnicas para trafegar no universo dos contos de fadas e contar uma história de uma princesa que foi transformada em sereia.
O espetáculo é uma inspiração e homenagem ao escritor Hans Christian Andersen, que foi um escritor de histórias para crianças de todas as idades, mas muito mais do que isto. Foi um jornalista crítico com um grande entusiasmo pela ciência, um pensador existencialista, um escritor de relatos de viagem muito observador, um romancista apaixonado, um esmerado artista de figuras de papel.
Em 2005, bicentenário de seu nascimento, Hans Christian Andersen renascerá como autor em toda a sua plenitude. As qualidades contidas no universo de Hans Christian Andersen são de valor inestimável e serão celebradas ao redor do mundo. Sua genialidade reside no fato de possuir algo que é vital tanto para crianças quanto para adultos. Seus escritos contêm verdades universais sobre a natureza humana e psicologia, cruciais para o desenvolvimento de cada indivíduo.
Hans Christian Andersen possui algo a oferecer para cada um de nós, assim como a figura do "Caixeiro Viajante". Com extenso currículo e várias premiações nacionais e internacionais, o autor e intérprete do espetáculo João Roberto de Souza, mergulhou no projeto de seu primeiro espetáculo voltado para crianças de todas as idades.
João Roberto ressalta que estava em dívida com seu público mais fiel e exigente, em outras obras, as crianças também se identificavam com os vários personagens criados em várias situações de seu repertório que já somam mais de 20 espetáculos de longa duração, sendo que mais da metade é de espetáculos solo.
Um dos pioneiros e o grande divulgador do butoh no Brasil, João Roberto desenvolveu ao longo dos seus 22 anos de pesquisa e desenvolvimento desta técnica, uma metodologia própria - o Aiar Butoh que tem exportado para várias partes do mundo por onde ministra seus cursos e oficinas.
O espetáculo que tem criação, direção, produção e interpretação de João Roberto de Souza foi concebido para ser executado na rua ou palco. O espetáculo trabalha com a linguagem corporal do butoh, utiliza vários bonecos, de diversos tamanhos e técnicas.
O espetáculo será apresentado nas Ruínas de São Francisco nas seguintes datas e horários: 18/3, às 16 horas; 19/3, às 17h30; 20/3, às 16 horas; 23/3, às 17h30; 24/3, às 16 horas; 25/3, às 7h30; 26/3, às 16 horas; 27/3, às 17h30."
GAZETA DO PARANÁ (PR) - BISS - 18 de março de 2005.
VALMIR SANTOS - Ilustrada - Folha de S.Paulo 19 de março de 2003.
Luiz Gonzaga Alca de Sant’Anna – Jornal A Tribuna – Santos, 03 de outubro de 2001.
Carla Nogueira – Jornal Oeste Notícias – Presidente Prudente, 16 de agosto de 2001.
Mas que atenção do público que se envolveu e se emocionou com o teatro, os atores João Roberto de Souza e Dany Rabello fez com que a platéia se encantassem com os minuciosos gestos da dança butoh..."
Jornal Oeste Notícias – Presidente Prudente, 12 de agosto de 2001.
João Paulo Nunes – Jornal O Imparcial – Presidente Prudente, 11 de agosto de 2001.
Solos e duos do contemporâneo eliminam subterfúgios e reencontram a alegria.
por Joel Gehlen
"... Também o bailarino João Roberto de Souza, do Ogawa Butoh Center, apresentou uma dança intimista, que, com movimentos mínimos e concentrada evolução do gênero criado por Kazuo Ohno, conseguiu calar um público arredio, ansioso por ver os malabarismos da street."
Jornal A Notícia - Joinville - Sexta-feira, 27 de Julho de 2001 - Santa Catarina - Brasil.
19º Festival de Dança de Joinville.
Glória Levy – Diretora do Festival de Teatro de Montevidéo – Jornal A Tribuna – Santos, 31 de janeiro de 1998.
Jornal Na Ponta dos Pés – Joinville, 23 de julho de 1997.
O espetáculo "A Rosa de Hiroshima", mostrado ao público da Segunda edição do Tanabata, possui três momentos muito fortes: o primeiro quadro, em que o bailarino entra com um chapéus de um metro de diâmetro e caminha lentamente pela diagonal do palco, compondo com as mãos, gestos que chegam a parecer uma linguagem especial; o quadro dos leques, executado no centro com vento artificialmente produzido por um ventilador; e o último, representando a morte do corpo queimado e destruído pelas ferpidas radioativas.
Outro ponto alto da apresentação foi a cena do tubo de plástico, ao som de "Pretender", em que João Roberto de Souza, vestido apenas com um tapa-sexo e coberto por fumaça vermelha (truque de iluminação), cria uma espécie de esqueleto humano que se constrói e desmonta em espasmos. Outra referência para a cena é, com certeza, o desenvolvimento do feto no útero materno. Entre os recursos utilizados pelo bailarino, constam ainda bandeiras do Japão, do Nazismo e a Americana, em memória aos sujeitos da II Guerra Mundial..."
Patrícia Piquera – Jornal Tribuna Impressa – Araraquara, 08 de julho de 1997.
Artista de São Simão "exporta" arte japonesa e produz teatro da terceira idade
Por Marcos Rocha
" Terça-feira, duas horas da tarde, sol de rachar catedrais e redações. São Simão, cidade de 15 mil habitantes, distante 50 quilômetros de Ribeirão Preto, parece estendida, rendida num imenso e preguiçoso vale verde. Nas ruas desertas, vez ou outra passam um carro, uma carroça, um professor, um bêbado curtido, um zeloso funcionário público. Mais do que nunca a idéia da reportagem sobre um artista, um dançarino do local e sua trupe de senhoras da terceira idade parece improvável, absurda. Cinco minutos depois de termos entrado na cidade já estamos em frente ao prédio do Centro de Convivência da Terceira Idade. Uma olhadela em volta e entre um monte de rostos simpáticos de uma dezena de senhoras sorridentes, impõe-se a inevitável placa de inauguração com nomes de políticos e a data que marca o início de tudo: 31 de dezembro de 1992. João Roberto de Souza, o bailarino de butô, diretor, idealizador e líder daquele grupo de senhoras chega logo depois, de shorts, sandálias, boné e óculos escuros. Apesar dos 32 anos de idade, ele é jovem, tem um rosto forte, angulado e parece sério, equilibrado, nada a ver com a imagem de desbunde pós-moderno sugerido pelo visual. Objetivo, direto, João apresenta o grupo e, com simplicidade, começa a expôr a essência de um trabalho que surpreende pela ousadia, pelo conteúdo inimagináveis em uma pequena cidade do interior cujo maior orgulho foi Ter sido um importante centro regional, coisa de 100 anos atrás. Aos poucos a impressão de um trabalho provinciano, piegas, conservador do tipo cristão empenhado em consolar velhinhas vai para o espaço. João mostra texto, fotos de Mulieribus (Para Mulheres), primeiro espetáculo do grupo Delirivm Teatro de Dança. Em catorze cenas independentes, quase como esquetes, o Delirivm apresenta a mulher vivendo situações históricas dramáticas como o nazismo, o apartheid, a guerra civil espanhola, os sem-teto e mães da praça de maio. Aquelas senhoras, mães, esposas, avós, viúvas, donas de casa que sorriem simpáticas ali na nossa frente são as atrizes desse espetáculo denso, dramático, que expõe o horror da condição humana sob a forma de dança e teatro. João diz que conseguiu descobrir em cada uma um talento específico, individualizado. Maria Cândido Carotta, 72 anos, presidente do Centro de Convivência da Terceira Idade é dona de uma voz portentosa, sempre bem colocada. AparecidaMercedez, 48 anos, tem segundo o diretor João, "um ouvido de Mozart". Odette Castelli Bartilotti, 77 anos é a grande revelação do elenco simonense. "Ela tem um grande talento para representar. Tanto nas cenas dramáticas quanto nas cômicas ela transpassa o óbvio, acrescenta luz ao texto, ao espaço. É uma estrela descoberta aos 77 anos", afirma João cheio de entusiasmo. E a sorridente Odette parece pouco ou nada preocupada com o repentino sucesso. Viúva, três filhos já casados, todos morando fora, ela se diz feliz porque voltou a viver quando o marido morreu há sete anos: "Antes eu era apenas esposa, desempenhava apenas esse papel. Claro, tinha até prazer em viver aquela vida de esposa e dona de casa, mas um outro lado de minha personalidade ficou presa, triste. Agora, estou feliz. Redescobri a alegria de viver, sou útil, posso e quero levar minha mensagem às pessoas através da arte. Minha vida, fora isso, continua sendo a de uma dona de casa do interior". E as surpresas não param por aí. O Delirivm já tem um novo espetáculo prestes a estreiar. É Anjos. O espetáculo conta a história de um grupo de mulheres de uma pequena cidade do interior que resolve sair do limbo, dos porões da existência para despertar as pessoas. Essa auto-representação inspirada em poemas de Mário Quintana já recebeu convites de Portugal e Alemanha e a partir de abril de 97 as senhoras de São Simão estarão mostrando seu trabalho em palcos de além-mar.
O Menino solitário ganha o mundo – Duas horas depois, ainda deslumbrados com o nível de seriedade e consistência artística daquele grupo de amadores, saímos pelas ruas ensolaradas da cidade. João agora ia falar dele, de seu trabalho individual e até se dispôs a fazer uma performance em um cenário inusitado: uma área de dunas que pertence a uma mineradora de São Simão. Antes uma passagem rápida pela humilde casa dos pais onde João apresenta-nos folhetos e mais folhetos explicativos e analíticos sobre seu trabalho. E mais surpresas surgem do nada, ali debaixo daquele sol que insiste em castigar a quase deserta e solitária São Simão. Falando outra vez com toda a simplicidade do mundo, o diretor do grupo Delirivm abre o jogo sobre sua arte, a dança iniciada ali mesmo na cidade aos sete anos e que hoje começa a ser conhecida na Europa: "Tudo aconteceu de forma intuitiva, absolutamente necessária, sem que eu pudesse fazer nada para impedir. Aos sete anos a dança brotava de meu corpo como uma semente que quer germinar e ao longo do tempo aceitei essa dádiva, esse compromisso como a mais importante coisa da minha vida. Vivi e vivo para a arte, para o teatro, para a dança". João tem razão mais uma vez. Nas dunas de areia inifinitamente branca, a poucos quilômetros da cidade, de saia e sem camisa, ele inicia uma dança silenciosa, introspectiva, que ao mesmo tempo comove e assusta. É o butô, dança de origem japonesa que inconscientemente, por pura intuição, João começou a desenvolver na infância. Complexa, difícil, ela exige anos de aprendizado e prática e quando bem realizada atinge a escuridão do subconsciente coletivo através da expressão da dualidade da vida. Ali, nas dunas, em poucos movimentos onde tensiona de forma radical músculos dos braços, das mãos, pernas, pescoço e face. João cria a beleza e a decrepitude, o ódio e o amor, a vida e a morte. Os gestos encerram em si mesmos significados, desejos, quereres comuns a todos os homens. Eles expressam a dor, a imensa solidão da humanidade que, ao mesmo tempo, é Deus em plenitude do ser. Ali naquelas dunas tendo o sol como testemunha, em menos de 40 minutos, João se transforma no mais primitivo e completo homem sobre a Terra e isso acontece na nossa frente numa espécie de êxtase terrível, silencioso, preciso. Foi mostrado na íntegra esse trabalho que o jovem simonense há pouco mais de um mês encantou a Alemanha e por conta disso já recebeu inúmeros convites para se apresentar em vários outros países da Europa no próximo ano. "Todos esses convites nasceram, foram resultados de um trabalho sério, criterioso. Gostei de me apresentar na Europa porque lá fui muito respeitado como artista. Lá com toda tecnologia de primeiro mundo, pude dançar, dirigir e iluminar meu trabalho de acordo com o que sempre sonhei. No próximo ano volto para trabalhar em conjunto com eles. Estou entusiasmado porque tenho muito o que aprender na vida e na arte e lá tenho plenas condições de melhorar minha performance. Aqui em meu próprio país, no meu próprio Estado, ainda sofro perseguições e preconceitos de toda espécie. A direção do Theatro Pedro II, há poucos dias nem sequer procurou saber, conhecer o trabalho do grupo Delirivm quando pedimos data para uma futura apresentação. Eles se recusaram a marcar a data porque o trabalho era de uma cidade pequena como São Simão. Esse raciocínio pequeno-burguês, de prejudicar homens e situações é coisa de gente subdesenvolvida, isso não existe lá fora. Na Europa eles respeitam a obra, a essência do trabalho e só por isso fui respeitado em minhas apresentações".
Mas apesar de tanto sucesso, João Roberto nunca esquece São Simão, sua família, os amigos e as colegas do Teatro Delirivm. Mesmo com todos esses compromissos pelo mundo afora, ele pretende sempre voltar para sua cidade para dar continuidade aos trabalhos locais. Mas, para quem leu críticas de jornais alemães sobre seu trabalho, sabe que as coisas caminharão num outro rumo, num outro ritmo na vida de João. Infelizmente, tudo indica que as artistas, os anjos da cidade podem estar perdendo seu líder, aquele que a um só tempo, com toda generosidade, foi pai, filho e uma espécie de Espírito Santo na arte de representar."
Marcos Rocha – Jornal Tribuna Ribeirão – 07 de dezembro de 1996.
Nele, a dança, a música e a pantomima atingem o máximo de sua apresentação dramática. Puro butoh, ao mesmo tempo leve e pesado. Ele faz no balé o que Milan Kundera faz no seu romance A Insustentável Leveza do ser. Ambos denunciam o peso de viver, do sacrifícioà morte anunciada. Suas personagens tentam libertar-se da opressão desesperada através da leveza das próprias opções e preferências – que constituem o encanto da vida - , mas cedo se percebem presioneiras de um destino cruel.
Chamo a atenção para ele, porque sua arte não pode limitar-se ao Brasil. O mundo a merece. Ele chamou a atenção durante a Eco-92, ao apresentar-se na praia de Copacabana: as TVs do mundo inteiro registraram sua performance. Mas seu ato de criação vai muito além. Trabalha atualmente num projeto que envolve Freud, a pintura de Klint e a música de Mahler. Mas – ó infortúnio! – ainda não tem patrocinador.
Toyota, Fuji, Mitsubishi, Sony, Banco América do Sul, Banco de Tokyo, chamo-lhes a atenção porque o butoh é uma dança japonesa. Mas a arte é universal, transcende o espaço e o tempo, fixa-se na eternidade e interessa a qualquer empresa, independentemente da sua nacionalidade. Por isso, peço a atenção de todas para este jovem talento. Farão um inteligente marketing institucional."
Alexandre Takara – Diário do Grande ABC – Santo André, 19 de junho de 1994.
Sua performance em "Venezhvela – La Hylaea Viverum" deixou o público do Teatro Carlos Gomes, na Quarta à noite, com o coração apertado – a conscientização também dói..."
Jornal de Santa Catarina – Blumenau, 13 de junho de 1994.
Jornal do Brasil – Rio de Janeiro, 08 de junho de 1992.
Dircéia Alvarenga Oliveira – Folha de Hoje – Caxias do Sul, 06 de setembro de 1991.
Barbosa da Silveira – Jornal O Imparcial – Presidente Prudente, 28 de junho de 1987.
Clarisse Abujamra – Folha de São Paulo, 31 de janeiro de 1983.